Enquanto somos obrigados a ficar de quarentena (#FicaEmCasa), jogar RPG pela internet é necessário e não só uma alternativa. Bem, eu topei com essas valiosas pérolas para melhorar sua experiência de jogo online e traduzi pra vocês. São 33 tópicos, mas a leitura é agradável e valiosa. Confie em mim.
Texto original escrito por Lowell Francis do blogue Age of Ravens, afiliado da comunidade de jogo The Gauntlet.
Para celebrar o evento aberto de jogos da comunidade The Gauntlet, eu reuni uma lista de 33 conselhos para narrar online. Algumas das dicas também podem ser usadas em jogos presenciais, mas narrar pela internet apresenta uma série de desafios especiais.
- No The Gauntlet, usamos muitas armazenadores online de personagens, geralmente baseados nas Planilhas do Google (Sheets). Quando possível, tente manter as personagens na mesma guia nessas planilhas, em vez de dar a cada indivíduo sua própria guia. Facilita a navegação dos jogadores;
- Se você tiver jogos agendados com antecedência, certifique-se de enviar alguns dias antes um lembrete ao grupo. Em geral, defino uma semana e então um dia. O e-mail de uma semana geralmente contém links para as informações do jogo. Lembre às pessoas com tempo suficiente para que elas possam reorganizar suas agendas (se elas se esquecerem) e/ou para você poder encontrar outro(a) jogador(a) (se alguém sair da mesa);
- Acerte os nomes e pronomes das pessoas. Tanto para elas quanto para suas personagens. Se você errar na sessão um, é melhor começar a sessão dois sabendo disso; (nota: se você não entendeu do que se trata essa dica, pesquise sobre “pronomes para pessoas LGBTQIA+”)
- Talvez a habilidade mais importante para se aprender e ensinar seja quando silenciar (o famoso “mutar”). Se você não estiver falando ao microfone, silencie-se. Diga isso explicitamente às outras pessoas. Algumas pessoas não percebem como seu ambiente está barulhento ou incômodo para a mesa. Se elas estão barulhentas, diga-lhes para que saibam. Você não precisa ser agressivo(a) sobre isso: apenas reforce que isso faz parte da cultura da mesa;
- Por outro lado, as pessoas vão esquecer de ativar o som quando falam. Dê-lhes um tempinho para perceber que ainda estão “mutados(as)”, em especial se forem jogadores(as) veteranos(as) e propensos(as) a perceber. Seja gentil ao dizer às pessoas que elas estão silenciadas. Pode ser constrangedor e irritante (principalmente se elas estão dizendo coisas incríveis só para elas). Você não precisa piorar esse constrangimento;
- Se alguém está disperso(a), está muito silencioso(a) ou se houver alguma outra falha técnica, você deve entrar em contato para avisar o(a) jogador(a). Muitas vezes sair da chamada e voltar corrigirá as falhas. Às vezes, a pessoa conectou incorretamente seu microfone. Se for um problema de internet fraca, desligar a câmera pode ajudar. Essas falhas geralmente não se corrigem sozinhas, então é melhor detectá-las logo em vez de deixá-las interferir no jogo. Novamente, seja gentil ao apontar isso. Com frequência, são problemas que a própria pessoa não consegue detectar;
- Se alguém sofrer falhar técnicas persistentes que interromperem e atrapalharem seriamente a sessão, faça uma pausa. Envie uma mensagem para a(s) pessoa(s) e veja se estaria(m) disposta(s) a sair da sessão. Talvez ela(s) consiga(m) consertar isso antes da próxima. Nunca é divertido ter que fazer isso, mas nesses raros casos é o melhor para todos;
- Se você estiver narrando e seu PC já falhou no passado (computador trava, internet oscilando, etc.), estabeleça o que acontece se você travar ou cair. Quanto tempo o grupo deve esperar? Como alternativa, certifique-se de ter uma opção de contato (como Google Hangouts, Slack, Discord, Telegram, email, etc.) que possa ser acessada de seu telefone – use-a para informar ao grupo;
- Sempre use ferramentas de segurança. Sempre use ferramentas de segurança. Sempre use ferramentas de segurança. Atenção para o plural. As ferramentas de segurança funcionam melhor com uma abordagem em camadas. Após uma conversa sobre tom, Linhas & Véus estabelece alguns limites básicos para o jogo. Combine isso com a Carta-X para ajudar a marcar quando você está se aproximando desses limites ou tocando em algo problemático que você não estabeleceu em L&V. Por fim, uma política de Portas Abertas permite que jogadores(as) saiam confortavelmente se estiverem se sentindo incomodados(as), passando mal ou se alguma emergência surgir; (este artigo resume essas ferramentas e oferece fontes para outras)
- Linhas & Véus deve ser feito o mais anonimamente possível. Normalmente usamos uma lista de verificação em nossos armazenadores online de personagens que os(as) jogadores(as) podem marcar durante a criação da personagem (e mais tarde durante o jogo). As pessoas podem marcar suas escolhas de forma relativamente anônima e adicionar outras. Caso contrário, recomendamos que jogadores(as) enviem suas listas no privado ao(à) MJ e, em seguida, o(a) MJ os anuncia; (nota: indico fortemente o documento de Consentimento ou sua versão em Formulário do Google, que você deve criar uma cópia e salvar em seu próprio Google Drive)
- Um dos melhores pontos de partida para uma nova sessão de campanha é CATS. É uma forma estruturada de colocar todos na mesma página. Isso ajuda a estruturar o tom de sua discussão e dá dicas às pessoas sobre o que elas realmente farão na mesa. Às vezes, consideramos que os(as) jogadores(as) têm o mesmo entendimento de um gênero ou conhecem os mesmos estilos. Melhor determinar isso rapidamente. Aqui está uma folha de referência do CATS; (nota: CATS = COTA, na minha tradução)
- Avise sobre a estrutura da sua sessão: “vamos fazer X, Y e Z. Faremos alguns intervalos, geralmente em tais momentos. Se chegarmos aos últimos 30 minutos, vou fazer acelerar as cenas para chegarmos a uma conclusão. Normalmente termino X minutos mais cedo. Pretendo fazer tipo um “retorno de opiniões” (debriefing) se houver tempo”;
- É melhor terminar antes em um ponto empolgante do que arrastar para outra cena que pode não caber no tempo restante. Se você terminar antes, verifique com seus/suas jogadores(as) se alguém tinha algo que pretendia fazer antes de fechar o jogo;
- Faça pelo menos uma pausa num ponto intermediário. Considere fazer uma pequena pausa de 5 minutos a cada hora de jogo para que todos(as) possam tomar fôlego e ter um momento para pensar sobre o que fazer em seguida. Se uma cena está pegando fogo, não há problema em atrasar uma pausa planejada, mas chegue a ela o mais rápido possível;
- Usamos três itens de tecnologia: nosso software de videoconferência (neste caso, Zoom), um armazenador de personagem (geralmente Google Sheets) e um rolador de dados online (https://rollwithme.xyz/). Se você os usa bastante, pode acabar esquecendo que nem todo mundo sabe como funcionam e algumas pessoas têm mais dificuldade para usar novas tecnologias. Familiarize-se com o básico para poder explicá-las;
- Em uma nota relacionada: quando você estiver explicando a configuração de tecnologia ou ensinando as regras, apenas uma pessoa por vez deve explicar. Normalmente, deve ser o(a) MJ ou alguém que o(a) MJ pediu para assumir essa tarefa. Se a pessoa explicando esquecer de algo que você acha ser vital, envie uma mensagem no chat em vez de tomar a palavra;
- Em uma nota re-relacionada: não se esqueça de que você pode ter que ensinar as regras do jogo. Verifique o nível de experiência de todos(as) com o sistema. Dê ao grupo o básico que precisam para jogar e seguir em frente. Mas não se preocupe com as regrinhas chatas ou perca tempo nas minúcias. Tente concentrar sua resposta no que o(a) jogador(a) precisa para fazer escolhas nesse momento;
- Se a ferramenta online escolhida permitir, faça com que seus/suas jogadores(as) mudem seus nomes de tela para o nome das respectivas personagens. O Zoom permite que você faça isso facilmente, assim como Discord, Roll20 e etc.;
- Os(as) jogadores(as) não precisam voltar para um jogo de que não estejam gostando. Se não for a praia deles(as), a mesa os incomoda ou não era o que esperavam, então não deveriam continuar jogando. É uma boa forma para os(as) jogadores(as) dizerem ao(à) MJ que não retornarão. Chamamos isso de Porta Aberta e também é usada se alguém do grupo precisar se afastar durante uma sessão. Sempre deixamos claro que eles/elas não têm nenhuma obrigação de explicar essa decisão. Se alguém sair desta forma, não pressione para saber o(s) motivo(s). No máximo, diga que você adoraria receber um retorno no futuro, se e quando a pessoa se sentir confortável com isso;
- Você não precisa aguentar pessoas que o(a) fazem se sentir desconfortável ou ameaçado(a). O(a) MJ é um(a) jogador(a) tanto quanto qualquer outra pessoa na mesa. Você pode pedir a um(a) jogador(a) para não retornar ou, se estiver jogando em um grupo de comunidade/servidor, deve poder pedir a um(a) organizador(a)/moderador(a)/administrador(a) para falar com essa pessoa. Procure manter esse processo discreto e não faça alarde sobre a pessoa ou ocorrido. Não é uma coisa fácil de fazer. Se você é um(a) organizador(a) de comunidade/servidor, deve ter um procedimento em vigor para lidar com isso;
- Talvez a habilidade mais importante para aprender a narrar online: SEMPRE FAÇA PERGUNTAS DIRECIONADAS. Se você fizer uma pergunta aberta à mesa, obterá silêncio, atrasos e hesitação. Cada vez que você faz uma pergunta aberta, você perde tempo e energia. Diga a quem você está perguntando pelo nome. Se sua pergunta pode se aplicar a todos(as), dê-lhe um foco. Por exemplo, “o que vocês querem fazer a seguir? Vamos começar com a resposta da Sherri”;
- A falta de comunicação física no ambiente online significa que você não consegue ler as reações de seus/suas jogadores(as) a algo que você disse. Depois de dar uma resposta de MJ a algumas ações (como interações sociais ou busca de informações), tento dizer “Isso é tranquilo?”, “Tudo bem?” ou algo assim. Então, se eu não entendi as intenções do grupo ou se um(a) jogador(a) sentir que o que recebeu não se encaixa com o que rolou ou gastou, ele(a) pode dizer isso. Esteja sempre conferindo com seus/suas jogadores(as);
- Em especial se seus/suas jogadores(as) não jogaram o sistema escolhido da sua mesa, diga-lhes que eles(as) têm a opção de mudar coisas entre as sessões um e dois (ou algum outro momento possível). Isso tira a pressão dos(as) jogadores(as) para fazer as escolhas ideais na sessão de criação de personagem. Eles(as) podem escolher o que parecer divertido. Isso também ajuda se alguém construiu uma personagem com um foco específico que não se encaixa no que o jogo propõe;
- Em geral, há alguns momentos de inatividade no início, enquanto você espera por todos e durante os intervalos. Aproveite a oportunidade para perguntar a novos(as) jogadores(as) sobre eles(as). Não fale sobre você. Apenas ouça e faça mais perguntas;
- Muitos jogos narrativos mais modernos não têm sistemas de iniciativa. Isso não significa que você não pode definir uma ordem. Estabeleça desde o início a sequência que você vai usar para passar a vez e vai adaptando. Uma boa referência é a ordem no armazenador de personagem. Alterne isso entre as sessões para que uma pessoa não fique presa sempre em primeiro. Deixe as pessoas atrasarem sua ações se não estiverem prontas. Também deixe claro que, se alguém tiver uma ótima ideia, essa pessoa pode entrar em ação imediatamente e mudar essa ordem durante o jogo;
- Eu tenho dois “macetes” de preparação para one-shots ou primeira sessão em que os(as) jogadores(as) constroem personagens e não têm a mínima ideia do que vai acontecer antes da sessão. Um: supondo que há quatro jogadores(as), coloque-os(as) em pares. Se duas personagens tiverem alguma tensão ou negócios inacabados gerados durante a construção de personagem, mantenha-as em pares separados. Narre para o Par A até que chegue a um ponto interessante. Narre o Par B até que veja alguns inimigos atacando ou emboscando alguém. Volte para o Par A conforme ele é atacado e, em seguida, encaixe o Par B. Uma outra maneira é, comece com o Par A vendo algo estranho, então o Par B vê algo diferente, mas também estranho. Os dois pares se encontram e agora eles têm que descobrir a conexão entre as esquisitices. Dois: pergunte ao(à) primeiro(a) jogador(a) por que a sala está pegando fogo. Ou sobre o colapso da torre. Ou sobre o barco que está afundando. Defina em retrospecto como o grupo chegou lá e imediatamente faça com que lidem com a ameaça (em geral, o ambiente e alguns inimigos);
- Especialmente se você tiver um jogo investigativo, defina sua forma de entrega de informações. Minha prática é que qualquer informação que um(a) jogador(a) ganha na cena um, o(a) próximo(a) jogador(a) tem na cena dois. Às vezes isso não faz sentido lógico, mas ajuda a jogar online. Isso evita cenas extras de explicação e os(as) jogadores(as) tendo que parar e perguntar entre si o que sabem e o que não sabem. Embora a suposição padrão seja de que a informação seja compartilhada, se um(a) jogador(a) diz que está ocultando algo, também é interessante porque a pessoa está sendo explícita sobre isso. E diz muito sobre essa personagem para o grupo;
- Saiba controlar o tempo. Mudei meu relógio na tela para o canto superior direito para que fique sempre na minha linha de visão facilmente. Não olhe para o seu telefone — mesmo que você esteja apenas fazendo isso para verificar a hora, ainda pode dar a impressão de que você está verificando suas mensagens e pega mal na mesa;
- Se você se perder na história, diga isso, faça uma pausa. Não fique pensando à toa. Eu me perco mais facilmente narrando online do que no presencial, então sempre tenho isso em mente. Por hábito e teimosia, não gosto de dizer “ei, me dê um minuto”, mas é melhor para seus/suas jogadores(as) e para o seu nível de estresse;
- Jogadores(as) diferentes levam períodos de tempo diferentes para responder às perguntas. Observe e tente se lembrar disso. Faça ao menos uma contagem até cinco antes de refazer uma pergunta ou sugerir uma resposta. Às vezes, os(as) jogadores(as) realmente não ouviram você (ou esqueceram o nome das próprias personagens quando chamadas). Mas às vezes eles(as) estão apenas pensando. Isso também é importante para jogadores(as) interpretando entre si. Mesmo se você, Mestre, tiver uma ideia super incrível, dê ao(à) jogador(a) a chance de pensar sobre a própria resposta. Não insira imediatamente a sua ideia. Dê a eles(as) a oportunidade inicial de assumir o controle, caso contrário, pode parecer que você está invadindo o espaço deles(as), mesmo que não seja de propósito;
- Personagens estilo “lobo solitário” são menos interessantes do que se pensa. Se um(a) jogador(a) opta por se separar e seguir seu próprio caminho quando a história é voltada para jogo em grupo, tudo bem. Mas não divida o tempo de jogo meio a meio entre a cena solo e o resto do grupo. Em um jogo com 4 personagens, alguém que saia sozinho deve ter 25% do tempo nos holofotes, o que significa que pode demorar um pouco para você voltar a essa personagem;
- PJs anti-autoridade muitas vezes não irão atrás das autoridades e poderes estabelecidos, mas também podem ignorar a liderança e sugestões do grupo. É um clichê típico, mas envelhece rapidamente e pode ser muito frustrante para outros(as) jogadores(as) do arquétipo pensador(a)/solucionador(a) de problemas. Esteja pronto(a) para interromper isso antes que se torne pessoal. Tenha uma discussão aberta sobre o que ambos(as) os(as) jogadores(as) desejam;
- Dê a si mesmo(a) bastante tempo em sua última sessão para cenas finais de jogadores(as). Deixe-os(as) ter espaço para narrar que rumo desejam tomar. Fique atento às escolhas dos(as) jogadores(as) nesse momento que podem negar ou interferir nas cenas finais dos(as) jogadores(as) anteriores e resolva com todos(as). Negocie um acordo.